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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/40

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de dividas, viuvo, refarto de alçapremar traições n’um sorriso, de farricôcar o odio em graciosas mesuras, de espremer a bolsa em proveito de parentes e caloteiros, resolvêra sahir de Lisbôa, descançar, fugir aos prazêres, á intriga, ao mundo que conhecia de sobra. Foi-se para Lavos, onde possuia excellentes propriedades em salinas, campos e florestas, a refazer a fortuna e a endireitar a espinha. O filho, entregue á douta protecção dos jesuitas, no seu ponto de vista, ficava bem. Por occasião das férias, acolhia-o com alvoroço, retinha-o com amor, dava-se a estudar-lhe os progressos na educação. O rapaz era intelligente, amigo do estudo, — mesmo talentoso, — arriscavam-lhe confidencialmente, em breves periodos lardeados de reticencias, os astutos preceptores. — E dava-lhes cuidado, — acrescentavam receosos, — regurgitava de seiva, precisava ser dominado de principio, aliás corria o risco de se perder.

Mais d’uma vêz, por noite alta, os prefeitos haviam surprehendido o menino fóra da cama, abancado á mesa, a face collada a uma luz asphyxiante de petroleo, todo n’uma febre de improviso, a fronte camarinhada, o olhar ardente, a mão galopando no papel, a fazer versos profanos. — Tinham-n’o castigado, — estivesse descançado.

A verdade é que D. Sebastião saíra uma ornisação privilegiada de artista. A uma retina infallivel no apanhar o lado bello das coisas juntava uma larga capacidade imaginativa, uma acuidade dilacerante do sentimento plastico e um poder vehemente de expressão. Com o penujar da adolescencia veio-lhe o impulso de verter nos companheiros as demasias da sua