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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/47

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podia ter dado uma mulher exemplar. Nem sensual, nem desequilibrada. Alma grande e inteligência estreita. O que queria era que a amassem, era ter que amar; porém na acanhada circuição do seu espírito este desejo não violava os limites postos ao amor legítimo pela religião e a lei. Assim, ela não namorava por vício, mas por cálculo, na ânsia de realizar perante Deus e os homens a sua inclinação natural. E no namorado não via nunca o macho, não apetecia o homem; delineava, futurava o marido. Casar era o seu sonho doirado; casar com um fidalgo, — a sua primeira aspiração de burguesa.

— Se este barão me quisesse!... Isso sim! Lembrava-se lá!... — Bem lhe tinha ela já feito a diligência. — Mas qual!

Por isso também, quando percebeu que o barão a requestava, ia estalando de alegria, coitadita. Foi naquela casa uma alegria doida... Breve, casaram, em S. Cristóvão, perto do palacete do barão.

Julgaram-se felizes nos primeiros tempos; mas, a pouco trecho, o encanto da novidade tinha quebrado, a etiologia moral do barão seguia fatal na sua escala deprimente. Veio-lhe a fome irresistível dos hábitos antigos. Recaiu neles, agora com todas as precauções tortuosas que o novo estado exigia. A mulher, à força de a ver sempre, ia-a esquecendo. O problema esperava a solução, — que lhe importava a ele! — Assim, o afastamento, a indiferença, o desgosto iam cavando entre os dois, cada vez mais largo e mais fundo... Não tinham filhos: — uma orquite dupla anulara no barão, quando solteiro, a faculdade de procriar. E agora,