Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/475

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Attrahido simplesmente pela luz, n’uma estagnação das faculdades, lasso, imbecil, tinha vindo o barão sentar-se n’um banco, frente ao theatro. Dentro a representação, — ouvia-se, — electrisava o publico. Em pleno successo a Revista do anno findo. Acanalhadamente, as coplas em voga succediam-se, feitas bisar, n’um estrupido de palmas. Distrahido e machinal, o barão escutava.

Quando dois gaiatos, que vinham á marmelada das senhas, dão com elle, conhecem-n’o, e o mesmo foi que entrar-lhes logo uma gana de o judiarem.

Vão e sentam-se-lhe cada um de seu lado; e n’um simultaneo arranco largam a afinar com o côro defronte:

As irmãs da caridade,
Pum!
Moram na Quinta Amarella.
Pum! catapum!
Agora, agora,
Réu, réu,
Pum!

E cada pum! berravam-n’o os dois aos ouvidos do barão, n’um achincalho.

Logo a frescata attrahiu quanto desabusado marmitão farandolava perto. Uns chamam os outros. — Aprendizes de officios, vendedores de jornaes, pillos, succubos, clarins, cauteleiros. — Breve, implacavel, de roda do martyr fervilhava a troça dos garotos. Eram vaias, improperios, coscorrões, motejos, um infernal alarido. O misero defendia-se, furtando o corpo, agitando os braços, esgrimindo o bengalão com deses-