Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/476

Wikisource, a biblioteca livre

pero. O que não fazia senão estimular a algazarra. Um, mais ousado, arrancou-lhe o pau das mãos; outro foi, cruel, pelas costas e beliscou-o.

Ao esporão da raiva e da dôr, o pederasta ergueu-se, a castigar o meliante; mas, no dar da volta, trepidando, vacillou e caiu em cheio sobre o beton.

Então, ao vêrem-n’o prostrado e inerme, rejubilam os malandrins, a assuada attinge proporções de delirio. Fazem-lhe roda, assobiam, apupam-n’o, atiram-lhe com os gôrros; e apertando, apertando o circulo, e agachados, ferozes, de mãos nos joelhos, tudo era bradar:

– Vá! pinguinhas, arriba!... Pum!... Então que é isso?... Ahi, seu farçola! Ahi, seu pinguinhas!

E o farçola não se levantava. A custo erguia o busto, em torturados solavancos, sobre um dos cotovelos... e não podia mais! que as pernas jaziam-lhe inertes, como desligadas do corpo, desmembradas. E d’ahi, desalentado, exhausto, voltava a caír, uivando retalhantes gemidos, rolando n’uma agonia os olhos.

Camarinhou-se-lhe de suor a testa, um instante estrebuchou... e a cabeça pendeu, exangue, e a bocca bolsou um liquido negro.

Foi quando a chusma dos gaiatos, suspeitando que o incidente descambára no que quér que fôsse de compromettedor e grave, se entreolharam, n’um terror, e, dando costas, silenciosos, lestos, debandaram.

Dentro, no barracão, findára o acto. A esmadrigada construcção tremia ao furor dos applausos. E agora era a multidão que vinha fóra