Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/93

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O mariola do sargento andava metido com uma amiga do cabo, e este, quando o soube...

— Ora! — interrompeu Xavier da Câmara — é o eterno cherchez la femme.
— Qual fama nem meia fama! — corrigiu irritado o coronel. — Não era só a fama... — e rematou a meia voz: — Punha-se nela!

Custou imenso a conter a hilaridade dos presentes. O barão ferrou nos lábios mordeduras de fazer sangue; Xavier da Câmara valeu-se do lenço, fingindo que expetorava; o Mendonça correu para o vão da janela, a chorar de riso; Alípio, que mastigava um cake, teve um espasmo violento de laringe, que lhe fez jorrar com estrondo o chá pelo nariz e pela boca, numa sufocação de um cómico irresistível. Só Inácio Miguéis, de dedos no ar empolgando uma fatia, permanecia imóvel, sem perceber.

Aquela esfuziada de troça, Henrique veio informar-se. E logo Alípio de novo coleou para cerca da viúva, a trocar com ela versinhos das pastilhas.

Depois que as últimas bandejas circularam sem que ninguém se utilizasse, o Mendonça, a pedido das senhoras, foi recitar. Em pé no topo da casa, mãos no espaldar da cadeira oficiosamente chegada por Henrique Paradela, passada a destra pela sua grenha de vate romântico ou de tenor de café-concerto, ele bramiu calorosamente, entre iracundo e apocalíptico, uma extensa homilia toda sangrante de apóstrofes em brasa ao prosaísmo do mundo, ao conflito dos interesses, à imoralidade «campeando infrene», ao domínio brutal da força, ao «culto abominante»