Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/166

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ele não pode vir aqui em amizade, passar as noites para o cavaco, tomar o seu café?... O homem não vai para o Brasil, senhora!

— Pois sim, pois sim, dizia a pobre senhora desconsolada, mas sempre era tê-lo de portas adentro!

Enfim, ela bem sabia que a gente na sua casa está muito melhor... Fez-lhe então grandes recomendações sobre a lavadeira, que mandasse buscar o que quisesse, louças, lençóis...

— E veja lá, não lhe esqueça alguma coisa, senhor pároco!

— Muito obrigado, minha senhora, muito obrigado.

E continuando a arrumar a sua roupa, o pároco desesperava-se agora contra a resolução que tomara. A pequena evidentemente não tinha aberto bico! Para que sairia então daquela casa tão barata, tão confortável, tão amiga? E odiava o cônego pelo seu zelo tão precipitado.

O jantar foi triste. Amélia, decerto para explicar a sua palidez, queixava-se de dores na cabeça. Ao café o cônego quis a sua "dose de música"; e Amélia, ou maquinalmente ou com intenção, disse a canção querida:

Ai! adeus! acabaram-se os dias

Que ditoso vivi a teu lado!

Soa a hora, o momento fadado.

É forçoso deixar-te e partir!

Então, àquela chorosa melodia repassada das tristezas da separação, Amaro sentiu-se tão perturbado que teve de se erguer bruscamente, ir