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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/254

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Dai a dias tinha havido na Sé o Ofício de corpo presente pelo rico proprietário Morais, que morrera dum aneurisma, e a quem sua esposa (em penitência decerto dos desgostos que lhe dera com a sua afeição desordenada por tenentes de infantaria), estava fazendo, como se disse, "exéquias de pessoa real". - Amaro desvestira-se, e na sacristia, à luz dum velho candeeiro de latão, escrevia assentos atrasados, quando a porta de carvalho rangeu, e a voz agitada de Natário disse:

— Ó Amaro, você está aí?

— Que temos?

O padre Natário fechou a porta, e atirando os braços para o ar:

— Grande novidade, é o escrevente!

— Que escrevente?

— O João Eduardo! É ele! É o liberal! Foi ele que escreveu o Comunicado!

— Que me diz você? fez Amaro atônito.

— Tenho provas, meu amigo! Vi o original, escrito pela letra dele. O que se chama ver! Cinco tiras de papel!

Amaro, com os olhos esgazeados, fitava Natário.

— Custou, exclamou Natário. Custou, mas soube-se tudo! Cinco tiras de papel! E quer escrever outro! O Sr. João Eduardo! O nosso rico amigo Sr. João Eduardo!

— Você está certo disso?

— Se estou certo! Estou a dizer-lhe que vi, homem!

— E como soube você, Natário?