Tomou uma grande atitude na poltrona, repetiu com força:
— Uma péssima ação social! Aonde nos querem os senhores levar com os seus materialismo, os seus ateísmos? Quando tiverem dado cabo da religião de nossos pais, que têm os senhores para a substituir? Que têm? Mostre lá!
A expressão embaraçada de João Eduardo (que não tinha ali, para a mostrar, um religião que substituísse a de nossos pais) fez triunfar o doutor.
— Não têm nada! Têm lama, quando muito têm palavreado! Mas enquanto eu for vivo, pelo menos em Leiria, há-de ser respeitada a Fé e o principio da Ordem! Podem pôr a Europa a fogo e sangue, em Leiria não hão-de erguer cabeça. Em Leiria estou eu alerta, e juro que lhes hei-de ser funesto!
João Eduardo recebia de ombros vergados estas ameaças, sem as compreender. Como podia o seu Comunicado e as intrigas da Rua da Misericórdia produzirem assim catástrofes sociais e revoluções religiosas? Tanta severidade aniquilava-o. Ia perder decerto a amizade do doutor, o emprego no governo civil... Quis abrandá-lo:
— Oh, senhor doutor, mas vossa excelência bem vê...
O doutor interrompeu-o com um grande gesto:
— Eu vejo perfeitamente. Vejo que as paixões, a vingança o vão levando por um caminho fatal... O que espero é que os meus conselhos o detenham. Bem, adeus. Feche a porta. Feche a porta, homem!
João Eduardo saiu acabrunhado. Que havia de fazer agora? O doutor Godinho, aquele colosso, repelia-o com palavras tremendas! E que podia