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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/331

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com o barão de Via-Clara, que, em vésperas de eleições, vinha pelas casas de pasto apertar a mão aos compadres. E ali na taberna, parecia magnífico o barão, com a sua luneta de ouro, os botins de verniz sobre o solo térreo, tossicando ao cheiro acre do azeite fervido e das emanações das borras de vinho.

Gustavo, avistando-o, recolheu discretamente ao cubículo.

— Está com o barão, disse numa surdina respeitosa.

Mas vendo João Eduardo aniquilado, com a cabeça entre os punhos, o tipógrafo exortou-o a não esmorecer. Que diabo! No fim, livrava-se de casar com uma beata...

— Não me pode vingar daquele maroto! interrompeu João Eduardo com um repelão ao prato.

— Não te aflijas, prometeu o tipógrafo com solenidade, que a vingança não vem longe!

Fez-lhe então, baixo, a confidência "das coisas que se preparavam em Lisboa". Tinham-lhe afiançado que havia um clube republicano a que até pertenciam figurões - e que era para ele uma garantia superior de triunfo. Além disso, a rapaziada do trabalho mexia-se... Ele mesmo - e murmurava quase contra a face de João Eduardo, estirado sobre a mesa - fora falado para pertencer a uma seção da Internacional, que devia organizar um espanhol de Madri; nunca vira o espanhol, que se disfarçava por causa da policia; e a coisa falhara porque o Comitê tinha falta de fundos... Mas era certo haver um homem, que possuía um talho, que prometera cem mil-réis...