Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/464

Wikisource, a biblioteca livre

Desprendeu-se brandamente, enfim, e limpando as lágrimas:

— Não, filha, é uma desgraça que nos sucede, mas tem de ser. Se tu sofres, imagina eu! Ver-te casada, a viver com outro... Nem falemos nisso... Mas então, é a fatalidade, é Deus que a manda!

Ela ficara aniquilada, à beira do leito, tomada ainda de grandes soluços. Tinha chegado enfim o castigo, a vingança de Nossa Senhora, que ela sentia preparar-se há tempos no fundo dos céus, como uma tormenta complicada. Aí estava, agora, pior que os fogos do Purgatório! Tinha de se separar de Amaro que imaginava amar mais, e ir viver com o outro, com o excomungado! Como poderia ela nunca reentrar na graça de Deus, depois de ter dormido e vivido com um homem que os cânones, o papa, toda a terra, todo o Céu consideravam maldito?... E devia ser esse seu marido, talvez o pai de outros filhos... Ah, Nossa Senhora vingava-se demais!

— E como posso eu casar com ele, Amaro, se o homem está excomungado?!

Amaro então apressou-se a tranquilizá-la, prodigalizando os argumentos. Era necessário não exagerar... O rapaz, verdadeiramente, excomungado não estava... Natário e o cônego tinham interpretado mal os cânones e as bulas... Bater num sacerdote que não estava revestido não era motivo de excomunhão ipso facto, segundo certos autores... Ele, Amaro, era dessa opinião... De mais a mais podiam levantar-lhe a excomunhão.

— Tu compreendes... Como disse o santo concilio de Trento, e como sabes, nós atamos e