Mas não estava nada perdido, graças a Deus. A Dionísia lá andava no faro!
Amélia recebia estas notícias com desconsolação. Depois das primeiras lágrimas, a irremediável necessidade impusera-se-lhe, muito forte. Por fim que lhe restava? Daí a dois ou três meses, com aquele seu desgraçado corpo de cinta fina e quadris estreitos, não poderia esconder o seu estado. E que faria então? Fugir de casa, ir como a filha do tio Cegonha para Lisboa, ser espancada no Bairro Alto pelos marujos ingleses, ou como a Joaninha Gomes, que fora a amiga do padre Abílio, levar pela cara os ratos mortos que lhe atiravam os soldados? Não. Então, tinha de casar...
Depois vir-lhe-ia um menino ao fim dos sete meses (era tão frequente!), legitimado pelo sacramento, pela lei e por Deus Nosso Senhor... E o seu filho teria um papá, receberia uma educação, não seria um enjeitado...
Desde que o senhor pároco lhe afirmara, em juramento, que o escrevente não estava realmente excomungado, que com algumas orações se lhe levantaria a excomunhão, os seus escrúpulos devotos esmoreciam como brasas que se apagam. No fim, em todos os erros do escrevente, ela só podia descobrir a incitação do ciúme e do amor: fora num despeito de namorado que escrevera o Comunicado, fora num furor de paixão traída que espancara o senhor pároco... Ah! Não lhe perdoava esta brutalidade! Mas que castigado fora! Sem emprego, sem casa, sem mulher, tão perdido na miséria anônima de Lisboa que nem