Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/476

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— Juro pela hóstia sagrada, juro por Nossa Senhora!

— Sempre que tenhas ocasião?

— Sempre!

— Oh, Ameliazinha! oh, filha! não te trocava por uma rainha!

Ela desceu. O pároco, dando uma arranjadela ao leito, ouvia-a embaixo falar tranquilamente com o tio Esguelhas; e dizia consigo que era uma grande rapariga, capaz de enganar o diabo, e que havia de fazer andar numa roda-viva o pateta do escrevente.

Aquele "pacto", como lhe chamava o padre Amaro, tornou-se entre eles tão irrevogável que já lhe discutiam tranquilamente os detalhes. O casamento com o escrevente consideravam-no como uma destas necessidades que a sociedade impõe e que sufoca as almas independentes, mas a que a natureza se subtrai pela menor fenda, como um gás irredutível. Diante de Nosso Senhor, o verdadeiro marido de Amélia era o senhor pároco; era o marido da alma, para quem seriam guardados os melhores beijos, a obediência intima, a vontade: o outro teria quando muito o cadáver... Já às vezes mesmo tramavam o plano hábil das correspondências secretas, dos lugares ocultos de rendez-vous...

Amélia estava de novo, como nos primeiros tempos, em todo o fogo da paixão. Diante da certeza que em algumas semanas o casamento ia tornar "tudo branco como a neve", os seus transes tinham desaparecido, o mesmo terror da vingança