Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/530

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A velha ficou toda contente ao vê-lo. É que lhe dava saúde a presença do senhor pároco! E se não fosse a distância, havia de lhe pedir esmola de vir todas as manhãs. Até depois daquela visitinha rezava com mais fervor...

Amaro sorria, distraído, com os olhos cravados na porta.

— E a menina Amélia? perguntou por fim.

— Saiu... Isso agora todas as manhãs é a passeata, disse a velha com azedume. Vai à residência, é toda do abade...

— Ah! fez Amaro com um sorriso lívido. Nova devoção, hem?... é pessoa de muitos méritos, o abade.

— Ai, não presta, não presta! exclamou D. Josefa. Não me percebe. Tem idéias muito esquisitas. Não dá virtude...

— Homem de livros... disse Amaro.

Mas a velha erguera-se sobre o cotovelo, e baixando a voz, com o magro carão aceso em ódio:

— E aqui para nós, a Amélia tem-se portado muito mal! Nunca lho hei-de perdoar... Confessou-se ao abade... É uma indelicadeza, sendo a confessada do senhor pároco, não tendo recebido de vossa senhoria senão favores... É uma ingrata, é uma traiçoeira!...

Amaro fizera-se pálido.

— Que me diz a senhora?

— A verdade! Que ela não o nega. Até se orgulha! É uma perdida, è uma perdida! Depois do favor que lhe estamos a fazer...

Amaro disfarçou a indignação que o revolvia. Riu até. Era necessário não exagerar. Não