Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/612

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Morgado, que bebiam em silêncio o seu quartilho, ergueram-se logo vendo aparecer os dois criados de farda.

— À vontade, rapazes, é sentar e beber, disse o velho baixito que acompanhava João Eduardo a cavalo. Nós lá estamos, na maçada do enterro... Boas-tardes, Sr. Serafim.

Apertaram a mão ao Serafim, que lhes mediu duas aguardentes - e informou-se se a defunta era a noiva do Sr. Joãozinho. Tinham-lhe dito que morrera duma veia rebentada.

O baixito riu:

— Qual veia rebentada! Não lhe rebentou coisa nenhuma. O que lhe rebentou foi um rapagão pelo ventre...

— Obra do Sr. Joãozinho? perguntou o Serafim, arregalando o olho brejeiro.

— Não me parece, disse o outro com importância. O Sr. Joãozinho estava em Lisboa... Obra de algum cavalheiro da cidade. Sabe vossemecê de quem eu desconfio, Sr. Serafim?

Mas a Gertrudes, esbaforida, rompeu pela taberna gritando que o saimento já ia ao pé do cemitério, e que não faltavam senão "aqueles senhores"! Os lacaios abalaram logo, e alcançaram o enterro quando ia passando a pequena grade do cemitério, ao último versículo do Miserere. João Eduardo agora levava uma vela na mão, ia logo atrás do caixão de Amélia, tocando-o quase, com os olhos enevoados de lágrimas fitos no veludilho negro que o cobria. Sem cessar o sino na capela dobrava desoladamente. A chuva caía mais miúda. E todos calados, no silêncio fusco do cemitério, com passos abafados pela