Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/80

Wikisource, a biblioteca livre

João Eduardo, que por trás das velhas, de pé, com as mãos nos bolsos, sorria mordicando o bigode, disse então:

— Olhe, senhor pároco, a coisa é o que os médicos dizem: é que aquilo é uma doença nervosa.

Aquela irreverência fez, entre as velhas devotas, um escândalo; a Sra. D. Maria da Assunção persignou-se logo à "cautela".

— Pelo amor de Deus! gritou a Sra. D. Josefa Dias, o senhor diga isso, diante de quem quiser, menos de mim! É uma afronta!

— É que até pode cair um raio, dizia para os lados, baixo, a Sra. D. Maria da Assunção, muito aterrada.

— Olhe, também lho digo, exclamou a Sra. D. Josefa Dias, o senhor é um homem sem religião e sem respeito pelas coisas santas. — E voltando-se para o lado de Amélia, muito azeda: — Olhe, filha minha é que eu lhe não dava!

Amélia corou; e João Eduardo, fazendo-se vermelho também, curvou-se sarcasticamente:

— Eu digo o que dizem os médicos. E de resto, acredite que não tenho pretensões a casar com pessoa da sua família! Nem mesmo consigo, Sra. D. Josefa!

O cônego deu uma risada muito pesada.

— Arreda! Cruzes! gritou ela, furiosa.

— Mas que faz então a Santa? perguntou o padre Amaro, para pacificar.

— Tudo, senhor pároco, disse a Sra. D. Joaquina Gansoso: está sempre de cama, sabe rezas para tudo; pessoa por quem ela peça tem a graça do Senhor; é a gente apegar-se com ela e cura-se de toda a moléstia. E depois, quando comunga,