começa a erguer-se, e fica com o corpo todo no ar, com os olhos erguidos para o Céu, que até chega a fazer terror.
Mas neste momento uma voz disse à porta da sala:
— Ora viva a sociedade! Isto hoje está de truz!
Era um rapaz extremamente alto, amarelo, com as faces cavadas, uma grenha riçada, um bigode a D. Quixote; quando ria tinha uma sombra na boca, porque lhe faltavam quase todos os dentes de diante; e nos seus olhos encovados, de grandes olheiras, errava um sentimentalismo piegas. Trazia uma guitarra na mão.
— Então como vai isso hoje? perguntaram-lhe logo.
— Mal, respondeu ele com voz triste, sentando-se. Sempre as dores no peito, a tossezita.
— Então não se dava bem com o óleo de fígados de bacalhau?
— Qual! fez ele desconsoladamente.
— Uma viagem à Madeira, isso é que era, isso é que era! disse a Sra. D. Joaquina Gansoso com autoridade.
Ele riu, com uma jovialidade súbita:
— Uma viagem à Madeira! Não está má! A D. Joaquina Gansoso tem-nas boas! Um pobre amanuense de administração com dezoito vinténs por dia, mulher e quatro filhos! Para a Madeira!
— E como vai ela, a Joanita?
— Coitadita, lá vai! Tem saúde, graças a Deus! Gorda, sempre com bom apetite. Os pequenos, os dois mais velhos é que estão doentes; demais a mais agora a criada também caiu de cama! É o diacho! Paciência! Paciência! — E encolhia os ombros.