pé da janela, fumando, contemplava Amélia, enlevado naquela melodia sentimental e mórbida: o seu perfil fino, de encontro à luz, tinha uma linha luminosa; destacava harmoniosamente a curva do seu peito; e ele seguia as suas pálpebras de grandes pestanas, que do teclado para a música se erguiam e se abaixavam com um movimento doce. João Eduardo, junto dela, voltava-lhe as folhas da música.
Mas Artur, com a mão sobre o peito, a outra erguida no ar, num gesto desolado e veemente, soltou a última estrofe:
E um dia, enfim, deste viver fatal,
Repousarei na escuridão da campa!
— Bravo! bravo! exclamaram.
E o cônego Dias comentou baixo ao pároco:
— Ah! para coisas de sentimento não há outro. — E bocejando enormemente: Pois, menino, tenho tido toda a noite as lulas a conversar cá por dentro.
Mas chegara a hora do loto. Cada um escolhia os seus cartões habituais; e a Sra. D. Josefa Dias, com o seu olho de avara a luzir, chocalhava já vivamente o grosso saco dos números.
— Aqui tem um lugar, senhor pároco, disse Amélia.
Era junto dela. Ele hesitou; mas tinham aberto espaço, e veio sentar-se um pouco corado, ajeitando timidamente a volta.
Fez-se logo um grande silêncio; e, com a voz dormente, o cônego começou a tirar os números.