Página:O Gaucho (Volume I).djvu/179

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nos olhos do menino, soltando um relincho soturno, que lhe arregaçava o beiço, e mostrava a branca dentadura. Seria acaso um riso sardônico do cavalo?

O caso é que os olhos do menino irradiaram; e do choque dos dois lampejos súbitos, chispou uma centelha ardente. Nesse momento, não obedecendo o Morzelo ao toque das rédeas, o negociante roçou-lhe as esporas. Estremeceu todo o brioso cavalo, mas estacou, na aparência calmo; foi quando o negociante fincou-lhe as rosetas, que ele girou sobre os pés com espantosa rapidez, e atirou-se pelo campo fora aos trancos, semelhante a uma bala que salta fazendo chapeletas.

O menino seguia a cena com ansiedade; seu peito ofegava; a respiração ardente lhe crestava os lábios entreabertos; por vezes seu rosto como que imbutia-se em uma lividez marmórea, cuja expressão era má e sinistra.

De repente soaram dois gritos: um de prazer, outro de angústia.

O Morzelo, abolando o corpo, rodara pela cabeça, esmagando o cavaleiro no chão duro e pedregoso. Quando o peão chegou em socorro do negociante, já o achou moribundo.