Página:O Gaucho (Volume II).djvu/49

Wikisource, a biblioteca livre

— Vamos ao churrasco? disse o miliciano.

— Nada; já estou pronto, e não tenho tempo a perder.

— Precisamos falar, retorquiu o furriel com intenção.

— Será para outra vez.

Fazendo um cumprimento de través, montou o gaúcho o alazão, que escarvava a terra para devorá-la. Nesse momento, da tropilha que esperava a curta distância, avançou o Morzelo, que veio meneando a cauda farejar o furriel.

De mau humor pela reserva e partida do Canho, o miliciano não reparou no cavalo; mas este começou a dar sinais manifestos de súbita alegria, soltando um ornejo que bem parecia um riso de prazer. Esta circunstância impressionou logo a Manuel; ele sabia que seus cavalos tinham o mesmo gênio arisco e desconfiado do dono; pelo que pareceu-lhe estranha aquela repentina afabilidade do Morzelo.

— O senhor conheceu meu pai? perguntou de chofre o gaúcho a Lucas.

— Seu pai?... repetiu o miliciano.

Os dois olharam-se; só então se tinham lembrado,