Página:O Guarani.djvu/33

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brando o desembaraço, soltou uma risada, e respondeo:

— Ora Deus, Sr. Loredano; estais ahi a fallar-me na ponta dos beiços e com meias palavras; á fé de cavalheiro que não vos entendo.

— Assim deve ser. Diz a escriptura que não ha peior surdo do que aquelle que não quer ouvir.

— Oh! temos anexim! Aposto que aprendestes isto agora em S. Sebastião: foi alguma velha beata, ou algum licenciado em canones que vol-o ensinou? respondeo o cavalheiro gracejando.

— Nem um nem outro, Sr. cavalleiro; foi um fanqueiro da rua dos Mercadores, que por signal tambem me mostrou custosos brocados e lindas arrecadas de perolas, bem proprias para o mimo de um gentil cavalheiro á sua dama.

Alvaro enrubeceo pela terceira vez,

Decididamente o sarcastico italiano, com o seu espirito mordaz, achava meio de ligar a todas as perguntas do moço uma allusão que o incommodava; e isto no tom o mais natural do mundo.

Alvaro quiz cortar a conversação neste ponto; mas o seu companheiro proseguio com uma extrema amabilidade:

— Não entrastes por acaso na loja desse fanqueiro de que vos fallei, Sr. cavalheiro?