Página:O Guarani.djvu/60

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reparando na melancolia da moca; pedirás a meu tio para caçar-te outro que farás domesticar, e ficará mais manso do que o teu Peri.

—Prima, disse a moça com um ligeiro tom de repreensão, tratas muito injustamente esse pobre índio que não te fez mal algum.

—Ora, Cecília, como queres que se trate um selvagem que tem a pele escura e o sangue vermelho? Tua mãe não diz que um índio é um animal como um cavalo ou um cão?

Estas últimas palavras foram ditas com uma ironia amarga, que a filha de Antônio de Mariz compreendeu perfeitamente.

—Isabel!... exclamou ela ressentida.

—Sei que tu não pensas assim, Cecília; e que o teu bom coração não olha a cor do rosto para conhecer a alma. Mas os outros?... Cuidas que não percebo o desdém com que me tratam?

—Já te disse por vezes que é uma desconfiança tua; todos te querem, e te respeitam como devem.

Isabel abanou tristemente a cabeça.

—Vai-te bem o consolar-me; mas tu mesma tens visto se eu tenho razão.