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Página:O Hóspede.djvu/186

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passos ofegantes de condenado que se dirige à forca, Mais forte e apetecível do que nunca lhe parecia aquele quadro holandês de vida familiar e honesta no emolduramento artístico do grande salão de madeiras. E lamentava o ter de abandonar todo aquele cantinho de mansidões em que por vezes sonhara viver uma vida morna de tranqüilidade sem fim a deslizar-se suavemente nos aconchegos bons desse ninho acolchoado.

Logo ao primeiro plano, como o vulto proeminente sobre o qual caíam fortemente os efeitos de luz, nas suas carnações sadias e belas curvaturas sensuais, destacava-se Nenê, a encará-lo fixamente, com um sorriso triunfal a entreabrir-lhe os lábios carnosos e rubros levemente separados pela linha branca da dentadura. Perturbou-se ao seu aspecto. Sentia-se pequenino e covarde ante aquela mulher que escapara de possuir, que por tanto tempo fora sua em pensamento, que tantas vezes sonhara abraçar no febril de uns sonhos de voluptuosidade, em cujos olhos vira tantas vezes tremeluzir uma súplica de amor. E este agora reaparecia-lhe mais forte e veemente, aumentado com os impossíveis que o rodeavam, recrudescido por tudo quanto havia sorrido. Os olhos se lhe umedeciam