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O INFERNO


V

Espero resignadamente as insolencias. Se m'as não disserem alto, dil-as-hão baixinho. Este livro irá ao Index, e tal, que o não tiver lido, se julgará abundantemente auctorisado a prohibil-o aos outros, como livro pernicioso. Vedar-se-ha ao peccador inveterado, contentissimo de sua recente conversão, de buscar aqui motivos para ser mais humilde; vedar-se-ha á viuva lagrimosa de procurar consolar-se n'esta leitura. Divulgar-se-ha que este livro é tição do inferno, que queima os dedos que lhe tocam. E ha de haver muito quem o diga na melhor boa fé.

A Egreja não alenta curiosidades de espirito. Porquê? De que se teme? Profunde-se cada vez mais a moral de Christo; que ella nos irradiará cada vez mais formosa, mais salutar e verdadeira. Por si mesma se justifica; dispensa pregões; nos labios d'um menino inflora-se tão bella como nos discursos d'um sabio.

As leis moraes não são arbitrarias; não são caprichos divinos nem tenebrosos decretos cuja sabedoria se esconde á nossa intelligencia. São perfeitamente adequadas á nossa natureza e necessidades. Não ha uma só, cuja inobservancia não surta graves desordens; uma só que não proteja a dignidade humana, a liberdade, o direito, o debil contra o forte, o innocente contra o cavilloso. São freio de paixões, luz e regras