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A

Um monsenhor Frutuoso, cura em terras mineiras, chegado aos meus por parentescos distantes, senhor de grande saber e muita moral e de quem trago de memória a figura sempre irrequieta e biliosa que lhe vinha de anos passados em rixas políticas e perseguições de partido, foi quem me pôs primeiro entre as mãos os livros que me ensinaram a amar a arte com o ardor com que ele entendia e amava.

Monsenhor, que tinha poucas predileções, parecia ter, na vida, duas, decisivas, fatais e sérias: a caça às pacas e o amor aos clássicos. Ora, quanto à sugestão da caça eu me podia furtar, porque então habitava um sobrado na rua da Alfândega, lugar de poeira e não de pacas, mas quanto aos clássicos a coisa era outra; eu estudava latim e monsenhor me inundava de Horários, de Ovídios e de Virgílios.

Phoebus volentem proelia me loqui

Victas et urbes, increpuit lira...

Tudo isso me vem à memória numa evocação suave, onde vejo o gesto de monsenhor, o seu nariz de ave rapace, a sua mão esquelética e a sua barba mal feita.

Eu adolescia e nessa idade, em que eu todo era um rebento de aspirações e espinhas carnais,