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comecei a ter, então, pelos clássicos, a noção do que era literatura. Mas apesar das palavras de monsenhor não os amava, mais por uma idiossincrasia especial que por uma razão fundada.

Foi como comecei. Depois veio o internato com os livros em voga nos colégios urbanos daquela época e que líamos à socapa pelos dormitórios e recreios — Júlio Verne, Hugo, Boisgobey, Eça e Balzac, num caos profundo de onde a literatura picaresca, às vezes, surgia numa brochura de Rabelais ou num opúsculo de versos pornográficos, sempre de autor desconhecido. Isso apenas prova o meu início incolor e apagado como o de quase toda gente, que vem desde o padre que ensina os clássicos e prega moral até ao livrinho obsceno de literatura de alcova, que a gente põe nos forros e cavas da manga, na ânsia importante de escondê-lo aos bedéis.

Liberto dessa primeira e caótica leitura entrei noutra ainda mais caótica e tremenda. Lia, lia muito, tudo que me caia entre as mãos com o cachet das edições da Plume Mercure, Stock, Charpentier ou Lemerre.

Devorava brochuras francesas com ânsia e a febre intelectual que absorve os espíritos para um país fora do mundo. Li parnasianos, românticos, decadentes, simbolistas, satânicos, naturalistas, naturistas e magos, mas sem entanto