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curvam-se ao poder executivo com o incondicionalismo de escravos; os tribunais se desvairam, atônitos, a formar jurisprudências contraditórias sobre casos concretos imprevistos. E nenhuma preocupação hipócrita de salvar aparências.

Depois, ainda há uma decisiva agravante: é a ignorância popular, fomentada e cultivada pelos poderes públicos. Com a monarquia o mal não era tão grande. Num regime em que a graça de Deus inspira governantes e governados, a ignorância é quase um bem. Mas em um regime democrático, tão fatal é ao organismo social o analfabetismo das massas como ao organismo animal a privação de alimento. Quem disse essas coisas de um modo admirável foi o meu ilustrado amigo Dr. Manuel Bomfim, em um discurso que pronunciou o ano passado perante o Sr. Presidente da República e o Sr. Prefeito do Distrito Federal.

Não cito uns trechos característicos, para não alongar demais este arrazoado; mas leia o meu amigo as páginas 10,11 e 12 do opúsculo O progresso pela instrução, que tal é o título sob que se acha publicado esse monumental documento de crítica social, obra ao mesmo tempo de artista e de filósofo.

Não! As escolas não se batem, meu caro. Nem há escolas. Há apenas poetas que vão tristemente produzindo livros tristes, pela lei do hábito.