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Temos românticos, naturalistas, nefelibatas, líricos, parnasianos, simbolistas, mas quase tudo francelho, com aquelas magras exceções que, no dizer dos gramáticos, vêm confirmar a regra. O que não temos é naturalismo, parnasianismo, simbolismo, etc.

E temos a ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS — um mito evocativo da Academia dos Seletos, ao qual o Sr. Seabra acaba de insuflar um pouco de realidade, fornecendo-lhe aposento, luz e criado, à custa da nação, para que, ante os seus pares atônitos, o Sr. Lúcio de Mendonça reviva e perpetue a imortal querela com o Sr. G. Redondo sobre a nacionalidade de Gonçalves Crespo. Mas a própria Academia de Letras, considere o meu douto amigo, nunca passou — tal a melancolia destes tempos — de uma sociedade funerária, com o exclusivo escopo de prantear os defuntos imortais e de receber novos imortais candidatos à vida eterna. Nela se entra pura e simplesmente para adquirir direito a uma morte carpida entre frases retumbantes e descompassados encômios. Nunca, jamais, nenhum imortal, ali penetrando, fez, no seu caráter de imortal, outra coisa que não partir para a bem-aventurança. E como o meu arguto amigo, com a sua incomparável perspicácia, deve ter ponderado, de si para si, isto é macabro.

E nestas condições, dado este meio, como haver atividade,