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publicados e começa a escrever um grande romance.

— Oh! Um livro muito difícil, apenas esboçado, sobre a vida das praias, dos pescadores.

D. Júlia está sentada na sombra, fala dos livros e dos filhos ao mesmo tempo. Estou a crer que os confunde e pensa nos personagens da fantasia criadora como beija os meigos frutos da sua vida. É calma, repousada, doce a sua voz, como são maternais os gestos seus. Qualquer coisa de suave e de simples aureola-lhe o semblante, impõe a veneração. Uma grande sinceridade, tal que decerto, ao ouvi-la, as almas mais retraídas lhe devem confessar a vida e pedir-lhe conselhos, como se pede aos bons e aos misericordiosos.

— E que me diz das escolas em luta, do socialismo, do nefelibatismo, do feminismo?

— Há tudo isso?

— Pelo menos parece. A Regeneração, o Ideólogo, Tolstoi, e logo depois Stirner, Nitzsche, o naturismo; o simbolismo...

— Deus do céu! É verdade que eu leio pouco. Algum desses senhores entretanto (creio que os nefelibatas) são por demais complicados. A arte, para mim, é a simplicidade. Ser simples e sóbrio é um ideal. Eles, ao contrário, confundem, torturam, torcem.

— A verdade é que nós atravessamos um período estacionário, intervém Filinto. Esse