Página:O Momento Literario (1908).pdf/92

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porque precisamente, não saberia a que aspirar.

Creio bem que esse é o nosso estado.

Continuaremos unidos? Continuaremos independentes? Da fusão de todos os elementos étnicos que se vão misturando em proporções irregulares no nosso território, que povo sairá? Não sabemos nada disso...

Dir-se-á que um poeta ou outro qualquer artista, sentado à sua mesa de trabalho, não precisa indagar nada disso para rimar uma poesia? É verdade. Mas para haver uma corrente literária, em qualquer nação, é necessário que haja um grande número de sentimentos comuns entre todos os que nela habitam. E é o que nós não temos. Tanto não temos que um pedaço do Brasil pôde ainda há pouco, pelo laudo iníquo do rei de Itália, ser desmembrado dele sem causar no nosso povo a mínima emoção.

Dir-se-á que o nosso caso nada tem de novo e todas as nações dependeram da fusão de vários contingentes étnicos? É também verdade. Mas essa fusão se fez lentamente, aos poucos, durante séculos. Sempre, porém, que, de um modo brusco, houve, em uma nacionalidade qualquer, irrupção de elementos estrangeiros, toda a vida literária ou desapareceu ou se amesquinhou. E a nossa nacionalidade se está fazendo por essa invasão tumultuária de elementos diversos, estranhos, variegados, mal distribuídos pelo território.