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Parecemos um cadinho, ao fogo, em que todos os químicos do mundo fossem atirando ingredientes vários. Que combinação sairá de tudo isso?

Por ora, somos uma "mistura", sem propriedades definidas... Para dizer mais claramente: é impossível pensar em literatura nacional — caracteristicamente "nacional" — quando ainda não somos uma nacionalidade, nem temos um ideal definido do que poderia ser a futura nacionalidade brasileira.

E chego à quarta pergunta: — há probabilidade de se criarem literaturas a parte, com o desenvolvimento dos centros literários dos Estados?

— Não! Nunca! Mesmo as grandes nações européias, tendo tradições seculares, cada vez oferecem menos características especiais que as diferenciem umas das outras. Quanto mais os nossos pobres Estados!

O que há entre nós é falta de meios de comunicação e falta de instrução primária. Quase ninguém lê, quase ninguém se vê. Daí a existência efêmera desses grupinhos estaduais, que são forçados ao elogio mútuo e exagerado pela estreiteza do meio e pela dificuldade de serem conhecidos no resto do país. Mas desde que um livro publicado no Amazonas for tão facilmente lido lá como aqui ou no Rio Grande do Sul, ninguém pensará mais na fantasia das literaturas estaduais.