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VII

 

Fui logo para casa, chamei precipitadamente Betty.

— Betty, disse eu fechando a porta do quarto, Betty, depressa, quero dizer-te uma coisa. Não me digas que não...

— Santo Deus! Socegue, descance, minha querida menina! Jesus, como vem pallida!

— Betty, é uma cousa irreparavel... devia ser. Foi pensada a sangue frio. Vês como estou tranquilla, sem exaltação, sem nervos. É uma resolução digna. Betty, não me digas que não!...

— Mas, minha rica senhora...

— Não se podia voltar atraz. Demais, sou feliz assim, tão feliz, tão feliz!

— Bem feliz, ao menos?

— Doidamente. E se não fosse assim, morria...

— Mas então...

— Fugimos ámanhã.

Ella estremeceu toda, deitou-me um grande olhar em que appareciam lagrimas, e suffocada, com as mãos juntas:

— E eu?

Atirei-me aos seus braços:

— Pois havias de ficar, Betty? Tu vens comnosco, Betty.

E correndo pelo quarto, abria os guarda-vestidos, tirando roupas, batendo as palmas, e gritando:

— Arranja, Betty, arranja tudo. Depressa! Arranja, arranja!

Mandei pôr a caleche. Eram quatro horas. Desci o Chiado. Ia alegre, triumphava: a minha vida apparecia-me, larga, cheia, explendida, coberta de luz. Entrei nas modistas, olhei, escolhi, comprei, com impaciencias de noiva, e recatos de conspirador. Apertei a mão a algumas amigas.

— Partes? perguntavam-me.

— Para França.

— Com a guerra?

— Não ha guerra. E havendo, não é interessante ver matar prussianos?

Á porta do Sassetti, encontrei Carlos Fradique.

— Sabe que parto ámanhã? disse-lhe eu.