De repente notou que o saci dentro da garrafa fazia gestos de quem quer dizer qualquer coisa.
Pedrinho não se admirou daquilo. Era tão natural que o capetinha afinal aparecesse...
— Que aconteceu que está assim inquieto, meu caro saci? perguntou-lhe em tom brincalhão.
— Aconteceu que este lugar é o mais perigoso da floresta, e que se a noite pilhar você aqui, era uma vez o neto de dona Benta...
Pedrinho sentiu um arrepio correr-lhe pelo fio da espinha.
— Por que? perguntou, olhando ressabiadamente para todos os lados.
— Porque é justamente aqui o coração da mata, ponto de reunião de sacis, lobishomens, bruxas, capora e até da mula sem cabeça. Sem meu socorro você estará perdido, porque não ha mais tempo de voltar para casa, nem você sabe o caminho. Mas o meu auxilio eu só o darei sob uma condição...
— Já sei, restituir a carapuça! adiantou Pedrinho.
— Isso mesmo, confirmou o capeta. Restituir-me a carapuça e com ela a liberdade. Aceita?
— Que remedio! respondeu Pedrinho.
Pedrinho sentia muito ver-se obrigado a perder um saci que tanto lhe custara a apanhar, mas como não tinha outro remedio senão ceder, jurou que o libertaria se o saci o livrasse dos perigos da noite e pela manhã o reconduzisse, são e salvo, á casa de dona Benta.
— Muito bem, disse o saci. Mas nesse caso você pode abrir a garrafa e me soltar. Terei assim mais facilidade de ação. Você jurou que me liberta; eu dou minha palavra