— Mentira não é, disse o saci. Minha coruja não mente. Mas pode ser que a menina tenha sido raptada por outro duende, que não a Cuca. E’ o ponto que temos de verificar.
— E se for a Cuca mesmo? Que havemos de fazer?
— Não sei. Tenho de pensar nisso. A Cuca é bastante poderosa, e má como ela só. Mas havemos de dar um jeito. Tenho cá uma ideia. Venha comigo.
Sairam do oco da peroba e tomaram o caminho do sitio de dona Benta. A escuridão da noite não embaraçava em nada ao saci, que, como filho das trevas, enxergava no escuro ainda melhor do que no claro. Mas o pobre Pedrinho padeceu um bocado. Só podia guiar-se pela brasa do cachimbo do saci, de modo que tropeçou em muito cipó e toco de pau podre, afundando os pés em formigueiros e buracos de tatú, espinhando-se na cara e nos braços. Mas era tal a sua ansia de chegar, que nem sequer a dor das arranhaduras sentiu.
— Neste andar chegaremos tarde, disse de repente o saci.. Se você é bom cavaleiro, poderemos ir montados num porco do mato.
— Sou. Já montei até num garrote bem taludo, que deu os maiores corcovos do mundo sem conseguir derrubar-me.
— Pois nesse caso, tudo está resolvido. Lá vem em nossa direção uma vara de porcos. Suba a esta arvore; assim que eu der sinal, atire-se de perna aberta para cima do lombo do que vem na frente. Eu irei na garupa.
Assim fizeram. Subiram os dois a uma arvore baixa; logo que o porco chefe passou por debaixo da arvore, Pedrinho e o saci atiraram-se sobre ele, agarrando-se aos compridos pelos do congote. Assustado com aquela manobra, o pobre porco disparou numa galopada louca pela mata