— Que ha?
— Coisa muito grave. Quando saí do sitio de dona Benta, deixei lá uma coruja, que é minha escrava, com ordem de avisar-me de qualquer coisa fora do comum que acontecesse. Pois bem: a coruja acaba de chegar com uma noticia nada agradavel.
— Que é? Diga logo...
— A Cuca apareceu no sitio e furtou Narizinho...
— Não diga! exclamou o menino, com os cabelos arrepiados. Temos que salva-la, saci! Darei tudo quanto você quiser, se me ensinar o meio de arrancar Narizinho das unhas desse horrendo monstro...
A Cuca! Pedrinho ainda tinha bem fresca na memoria a lembrança dessa bruxa das historias que a ama lhe contara nos primeiros anos de sua vidinha. Lembrava-se até duns versos que ela cantava para adormece-lo:
Durma, nenê, que a Cuca já lá vem,
Papai está na roça; mamãezinha,
No Belém.
Lembrava-se que ouvindo essa cantiga sentia uma ponta de medo e fechava os olhos e logo dormia. Depois que cresceu, nunca mais ouviu falar na Cuca, a não ser minutos antes, quando o saci lhe contou que a Cuca era a Rainha das Coisas Feias. Seria verdade? Verdade ou não, tinha de voltar ao sitio incontinenti e de qualquer maneira.
— Vamos embora, saci! Precisamos chegar ao sitio quanto antes para saber com certeza o que ha. Pode ser que a coruja esteja mentindo, mas tambem pode ser verdade.