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MONTEIRO LOBATO

embiras, com as quais amarrou a folhagem em redor do seu corpinho. O menino fez o mesmo.

Ficaram tal qual dois arbustos moveis e, assim disfarçados, dirigiram-se para a caverna do horrendo monstro, pé ante pé, tão devagarzinho que levaram vinte minutos para caminhar uns poucos metros.

Subito, ao dobrarem uma curva, viram lá num canto a rainha. Estava sentada diante duma fogueira, de modo que a claridade das chamas permitia que as “folhagens” lhe vissem a carantonha em toda a sua horrivel feiura. Que bicha! Tinha cara de jacaré e garras nos dedos como os gaviões. Quanto á idade, devia ter para mais de tres mil anos. Era velha como o Tempo.

— Estamos de sorte, disse o saci ao ouvido do menino. A Cuca só dorme uma noite cada sete anos e chegamos justamente numa dessas noites.

— Como sabe? indagou Pedrinho, cuja curiosidade não tinha limites.

O saci danou e ameaçou-o, se continuasse com tais perguntas, de deixa-lo ali sózinho para ser devorado pelo monstro. Em seguida queimou na brasa do pito uma misteriosa folha, que havia apanhado pelo caminho sem que o menino o percebesse.

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