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O SACI
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— Que bicho é esse? perguntou ele.

— Oh, era o cavalo de Alexandre, o Grande, um cavalo bravissimo, que nenhum homem, fóra Alexandre, jamais conseguiu domar. Um dia, quando estivermos sossegados, hei de contar a historia dos grandes cavalos.

— Sim, interrompeu o saci, mas agora feche o bico. Estamos nos dominios da Cuca, onde qualquer imprudencia nossa póde nos custar muito caro. Essa horrenda bruxa tem ouvidos ainda mais apurados do que os meus.

Pedrinho calou-se.

Nisto a lua saiu de trás das nuvens e ele pôde ver melhor o sitio onde se achava. Bem á frente erguia-se a muralha duma montanha de pedras negras, com arvoredos retorcidos brotando das brechas. Era uma paisagem diabolica, que punha nos nervos das criaturas os mais exquisitos arrepios. Lugar bom mesmo para morada de monstros como a tal Cuca...

— E’ ali! murmurou baixinho o saci, apontando para uma abertura negra. E’ ali a entrada da caverna da senhora Cuca...

— Como sabe? perguntou Pedrinho tolamente.

— Que pergunta! respondeu o saci com ironia. Sei porque sei. Tinha graça que um saci não soubesse onde mora a Cuca... Mas, silencio! Temos que entrar com mil cautelas, de arrasto, como se fossemos cobras. Não! Não! O melhor é nos disfarçarmos em folhagem.

— Como isso?

— Nada de perguntas. Faça o que eu fizer, sem discutir, ordenou o diabrete, afastando-se dali para arrancar braçadas de folhas da arvore mais proxima. Pedrinho fez o mesmo. Em seguida o saci lascou da mesma arvore umas