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XXIX

O novelo de cipós


CORTADO o cipó, trouxeram-no em dois grandes feixes; e, sem receio nenhum, pois os roncos da Cuca mostravam que ela estava a dormir como quem não dormia ha sete anos, começaram a amarra-la dos pés á cabeça.

Mais uma vez teve Pedrinho de reconhecer como era habil e arteiro o seu amigo saci. Amarrar parece coisa facil, mas não é. Se Pedrinho houvesse amarrado a Cuca, o mais certo era que com dois safanões a bruxa se livrasse da cipoada num minuto. Mas com o saci deu-se coisa diferente. O diabinho parecia nunca ter feito outra coisa na vida. Amarrou-a com a mesma ciencia com que as aranhas amarram as moscas nas suas teias, sem deixar um ponto fraco. O segredo, explicou ele, era estudar a amarração de modo que, ao despertar, a Cuca não pudesse fazer o menor movimento. Porque se a criatura amarrada puder fazer um pequeno movimento, por menor que seja, afrouxará um ponto no amarrilho; — e depois afrouxará outro ponto e assim irá até libertar-se duma vez.

Terminado o serviço, em vez de Cuca via-se no chão um verdadeiro carretel de cipó.

— Sim, senhor! exclamou Pedrinho. Aprendi mais hoje do que em toda a minha vida. Esta diaba pode ter a força de cem elefantes, mas duvido que escape da “nossa” amarração.