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O SACI
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O saci sorriu daquele "nossa", mas calou-se. Limitou-se a enxugar o suor da testa.

— Temos agora de acorda-la, disse depois.

— Deixe esse ponto comigo, pediu o menino. Com um bom pau de guatambú, eu acordo-a bem acordada.

— Nada de paus! Você não conhece a Cuca. Um monstro de tres mil anos, como ela, havia de rir-se das pauladas dum menino como você. A’ força, é impossivel lutar com ela. Temos de usar da astucia. A arma a empregar vai ser o pingo d’agua.

— Lá vem o pingo d’agua outra vez! exclamou o menino. Até parece caçoada, querer com um pobre pingo d’agua vencer uma bruxa destas.

— Pois fique sabendo que é o unico meio.

Pedrinho não entendeu, ficando de boca aberta, a observar as manobras do saci. A engenhosa criaturinha trepou que nem macaco pelas estalactites gotejantes da gruta até alcançar a que ficava bem a prumo sobre a cabeça da Cuca. E lá, então, encaminhou um fiozinho d’agua, de modo que gotejasse lentamente bem no meio da testa da Cuca.

— Basta isso, disse ele. No começo ela nem sente; mas com a continuação a dor vai ficando tamanha que ha de dar-se por vencida.

— Sim, senhor! murmurou o menino. Está aí uma invenção que nunca imaginei — mas agora me lembro que vóvó nos contou uma historia assim...

— Pois é, disse o saci. Ambos ouvimos essa historia; mas só eu prestei atenção e agora já estou tirando partido do que aprendi. Sou dez, vezes mais esperto que você, Pedrinho. Não acha?