Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/106

Wikisource, a biblioteca livre

— Que importa ser pobre! Os pobres são às vezes mais felizes com seu trabalho do que os ricos com seu dinheiro.

— Eu sei que nhonhô não se importa; mas também, quando a gente pensa que esta Fazenda do Boqueirão e toda a riqueza de meu defunto senhor, que devia pertencer a nhonhô Mário, de repente passou para os outros, quando a gente menos cuidava!... E tudo porque meu defunto senhor em velho deu para jogar, jogar...

— E foi por isso, Benedito? Foi porque meu avô jogou?

Fazendo essa pergunta, o menino fitou no rosto de Benedito um olhar ardente, que fascinou a pupila do negro, obrigando-o a abaixar as pálpebras.

— É o que todo o mundo diz, nhonhô!

— Bem sei. Mas pensas tu que também isso me aflige de não possuir a riqueza que foi de meu avô e devia ser de meu pai? Este mundo é assim mesmo, Benedito; uns ganham, outros perdem. Quem sabe se eu ainda não hei de ser rico, apesar de nascer pobre.

— Há de, nhonhô, há de; eu tenho uma cousa que me diz aqui dentro do coração!