Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/150

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Durante todo este tempo a baronesa, entretida em folhear um álbum de gravuras, não mostrara dar a menor atenção a D. Francisca, apesar do tom respeitoso com que esta lhe falava.

— Não há aí ninguém desocupado. Todos são precisos para o serviço da casa! disse afinal a baronesa na ponta dos beiços e voltando o rosto para o outro lado.

— Desculpe V. Ex.a, eu pensava...

D. Francisca fez uma reverência, que terminou a sua frase, cortada por uma ligeira opressão. Retirando-se da sala, desceu ao jardim, com intenção de procurar seu filho.

Ela sabia que não teria forças para ir muito longe, com a cabeça exposta ao sol do meio-dia; mas o coração a arrastava. Do modo desdenhoso por que a baronesa a tratava, e da recusa que sofrera, já não se lembrava; estava tão habituada a essas maneiras que não lhe causavam mais grande impressão.

O suplício de viver da compaixão alheia, comendo o pão saturado com as lágrimas da humilhação, esse martírio, padecia-o ela a todas as horas e a todos os instantes. Mas a dor cruciante desse crivo d'alma já não lhe