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Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/168

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todas tinham para ele uma figura, uma atitude e um nome. Estudara até os seus costumes. Sabia a hora em que apanhavam sol, ou se cobriam de sombras; o momento da sesta do cameleão, e da visita das andorinhas depois do banho.

O lago, apesar do terror de que o cercava a tradição, não escapou às investigações de Mário. Para ali sobretudo, para a voragem medonha, o arrastava sua ardente curiosidade. Aquela água, onde se tinha submergido o corpo de seu pai, talvez guardasse ainda o segredo da catástrofe.

O menino sabia nadar; muitas vezes tinha experimentado suas forças no Paraíba, cortando-lhe a veia; mas a correnteza do rio, ainda mesmo no tempo das enchentes, era suave em comparação com o torvelinho do lago. Aqui a água tinha um eixo em torno do qual volvia com a velocidade do tufão.

A princípio Mário arriscou-se unicamente nos lugares, onde o lago se espraiava, e a rotação das águas era ainda lenta, embora pesada. Circulou essas orlas do abismo, provando as forças, e habituando-se a resistir ao ímpeto da corrente.