Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/17

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da terra, como sucede com as árvores anosas, tinham sido carcomidas pelo caruncho, e formavam brocas profundas que se entranhavam pelo solo. Quando eu fazia essa observação, conjeturando que as palavras talvez houvessem partido desse tubo natural, ouvi outra vez a voz subterrânea que reboava:

— Perdoa, perdoa, senhor!

Além de confirmar a primeira observação, conheci que a voz era a do preto, e transmitia-se por um fenômeno natural proveniente da construção geológica do sitio. Seguindo a direção que tomara o pai Benedito, fui achá-lo metido em uma espécie de furna que havia no rochedo, inclinado ou quase caído de bruços sobre uma pedra úmida, coberta de limo e parasitas.

Ainda os lábios grossos e trêmulos do ancião balbuciavam as mesmas palavras que eu ouvira; e as repetiram por muito tempo até que ali ficou extático e imóvel.

Que misterioso crime se cometera naquele sitio, para o qual tantos anos passados ainda o negro velho implorava o perdão à memória de seu falecido senhor?