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Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/173

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a vertigem, uma e muitas vezes, até que se acostumou a dominá-la.

Mário, conhecendo a força de atração do abismo, imaginou que Alice ia precipitar-se; o seu primeiro impulso foi chamá-la e preveni-la; mas ele tinha às vezes instintiva repugnância por essa menina, a quem envolvia na aversão que votava ao barão e a quanto lhe pertencia.

Nisto, por um fenômeno muito natural nos momentos de emoção, as impressões atuais se travaram e confundiram com as recordações do passado, produzindo uma espécie de nimbo moral, meio visão, meio realidade. Desenhou-se em sua imaginação, como um lampejo, a cena da morte de seu pai, tragado pela voragem, enquanto o barão de pé, na margem, sorria com orgulho. No fundo desse quadro, como disputando-lhe a tela e transparecendo através da primeira cena, a fantasia do menino via Alice por sua vez tragada pelo boqueirão; na margem, o barão sucumbindo ao peso de tamanha desgraça, e ele, Mário, em pé sobre o rochedo, sorrindo-se como o anjo da vingança.

Nesse momento ouviu-se o soluço profundo