Página:O Tronco do Ipê (Volume I).djvu/184

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o corpo da menina. Mas ainda essa vez o abismo disputou a presa; os vestidos de Alice pesavam como uma mortalha de chumbo.

Depois de repetidos arrancos, Mário reconheceu que não obteria resultado algum. Mudando então prontamente de plano, travou os pés no pescoço de Benedito, e segurando com ambas as mãos os braços de Alice, arcou de novo contra a correnteza.

O corpo do negro, inteiriçado sobre o abismo, escorrendo sangue das feridas, brandia, aos repetidos abalos que lhe imprimiam as arremessas de Mário, como um vergão de ferro. Com o esforço, os artelhos do menino cerrando-se quase estrangulavam o pescoço do velho africano, cujos olhos injetados e narinas dilatadas, indicavam asfixia iminente.

O menino estorcia-se dentro d'água. Seu corpo parecia romper-se, como o dorso da serpe quando se dilata para estringir a presa. A luta estava indecisa. Às vezes acreditava-se que Mário ia triunfar, arrebatando a vítima ao boqueirão; outras vezes o menino perdia a vantagem adquirida e submergia-se ainda mais.

Como era sublime essa cadeia humana que