Página:O Tronco do Ipê (Volume II).djvu/119

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de tudo como se fosse hoje. Agora posso ir; com você, papai não tem medo; nada me sucederá.

O sorriso desfolhou-se de repente nos lábios da menina, que tinha enfim reparado na singular expressão do rosto de Mário. O olhar surpreso que lançou ao moço, fê-lo cair em si e dominar-se:

— Alice, eu lhe peço! disse ele tomando-lhe a mão afetuosamente. Não desperte essas recordações; deixe-as dormir para sempre.

— Incomodam-lhe, Mário?

— Muito!

— Tão ruim foi para você esse tempo, que não pode suportar nem que se fale dele? exclamou Alice com uma queixa sentida. Que você não se lembrasse mais, era natural. Esteve na Europa!...

— Essas recordações, não se apagaram de meu espírito, como você pensa, Alice. Quantas vezes na capital do mundo civilizado, enquanto as maiores celebridades passavam por diante de mim, e o burburinho da grande cidade aturdia uma população ébria de prazer; quantas vezes meu pensamento não atravessava o oceano, para refugiar-se nestes sítios, onde vivi minha infância; para divagar pelas matas e campos, onde eu tantas vezes