Página:O bobo (1910).djvu/150

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caíra trocou-se repentinamente em impensada realidade. Um leve rugir de folhas secas a despertou do seu devaneio. No mesmo momento um cavaleiro coberto de saio e cervilheira de malha estava a seus pés, e segurando-lhe trémulo uma das mãos lha cobria de beijos ardentes.

Todo o ciúme, toda a procela, acumulada por dias de intenso martírio no coração de Egas, desaparecera.

— Meu Deus! - quis bradar Dulce, aterrada. Os lábios não puderam todavia repeti-lo.

Mas instintivamente recuara.

O encanto que havia subjugado por um instante o mancebo quebrou-se então: a sua alma reconquistou o esforço da desesperação, que tão de súbito o abandonara.

Ergueu-se e recuou também; mas em pé, e cruzando os braços, olhou para a pupila de D. Teresa como o juiz para um réu.

— Faz agora três anos e um dia - disse ele com voz lenta e na aparência tranquila - que neste mesmo lugar te jurei estar hoje aqui a teus pés! Meus juramentos cumpriram-se. Dulce, lembras-te dos teus?

— Meu Deus! Egas! tu aqui? Oh! que mal te fiz eu, para me matares com o inesperado