Página:O bobo (1910).djvu/151

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da tua vinda? - murmurou Dulce desfalecendo, e vindo cair nos braços do trovador.

Mas estes braços não se uniram para a estreitar contra o peito! O cavaleiro afastou-a de si brandamente, e prosseguiu:

— Não é minha a culpa se um raio caído do céu vem partir a cadeia dos teus dias risonhos tecida pela traição. Meus juramentos cumpriram-se. Dulce, que fizeste dos teus?

O carácter de Dulce era um misto inexplicável de candura e de energia, em que a fraqueza própria do seu sexo era muitas vezes subjugada pelo sangue nobre e generoso que lhe girava nas veias - o sangue dos Bravais. A alegria súbita de ver Egas poderia ser-lhe fatal, se as palavras gélidas que ele lhe dirigia não houvessem temperado o delírio do primeiro instante. Nessas palavras conheceu a donzela que o ciúme era quem as ditava. O sentimento da injustiça com que o cavaleiro repelia a sua ternura a fez recobrar a consciência da situação em que se achava. Durante alguns momentos um silêncio profundo reinou entre os dois amantes, que olhavam fitos um para o outro. Dulce, por fim, tirando do seio um pequeno punhal, deu dois passos para diante, e arrojando para