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Página:O bobo (1910).djvu/152

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longe a bainha tomou-o pelo ferro, e oferecendo-o a Egas disse-lhe com voz a princípio firme, mas que brevemente as lágrimas cortaram:

Quando há três anos, Egas, o nobre trovador, partiu para o ultramar, a sua amante na hora cruel da despedida pediu-lhe uma lembrança, que bem dizia com os seus tristes pressentimentos. Esta memória foi o punhal toledano que ele trazia consigo. Dulce era uma pobre órfã: podiam constrangê-la a ser infiel; e então cumpria-lhe morrer: foi para morrer que ela o pediu... Egas! - prosseguiu a donzela - os meus juramentos guardei-os até hoje: juro-o por Deus que nos ouve! Mas se me crês culpada, ou que eu possa vir a sê-lo, vinga-te da traição, ou embarga-me o trair-te.

E estendia o punhal para o cavaleiro.

— Sabes que eu não poderia assassinar-te! - replicou Egas. - Nem para te assassinar vim aqui. O meu intento era outro... Qual?... Nem eu mesmo o sei... Trouxe-me mau grado meu a loucura da desesperação. Oh, sim!... agora me recordo... vinha para te dizer: "Dulce, fizeste bem em trocar o foragido, o homem que só possui a pouca terra que lhe deixaram seus pais; que não ganhou ainda