Página:O bobo (1910).djvu/177

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justiça, mas de justiça recta e imparcial: a recompensa corresponderá aos méritos. Repete o que de relance me disseste ao começar do banquete: busquemos achar o fio desta teia infernal.

Então o pajem narrou o que percebera da conversação entre Gonçalo Mendes, o homem do zorame e o abade do Mosteiro de D. Muma. A sua narração era incompleta, mas ouvira o nome de Egas Moniz, e que este viera do campo do infante. Quem duvidaria já de que existisse uma vasta conjuração dentro do próprio recinto de Guimarães? Que outros motivos trariam ali um dos mais ilustres cavaleiros da linhagem do implacável e manhoso aio de Afonso Henriques? Estas reflexões ocorriam de tropel ao conde escutando a narração do seu pajem.

Quando este chegou a proferir o nome de Egas, um grito fugiu dos lábios do alferes-mor. Fernando Peres alçando os olhos encontrou os dele, que pareciam faiscar. Era a cólera, o ciúme, a sede da vingança? Era talvez tudo. O conde interpretou este grito e este olhar pelos próprios pensamentos.

— Tens razão, Garcia - disse ele. - Indignas-te de ver que homens, cheios de benefícios e honras pela rainha de Portugal, venham nos