O conde voltou a cabeça sem parar, encolheu os ombros e saiu.
Dulce, que ficara na postura em que se achava com a mão do alferes-mor entre as suas e a fronte pendida sobre ela, alevantou então os olhos e fitou-os no cavaleiro: o rosto deste era solene e triste.
— Estás satisfeita, Dulce? - perguntou o aragonês.
— Tu és bom e generoso, Garcia! Tu és bom e generoso! - murmurou a filha de Gomes Nunes. - Pudera eu oferecer-te um coração ainda virgem! Oh, de quanto amor eu cercaria os teus dias!
— Basta! - interrompeu o cavaleiro perturbado. - Que te importa, anjo do céu, se ao passares na Terra os raios da tua luz devoraram uma existência? Que importa?!... Oh, que nesta idade de vida e de esperança custa muito a morrer!
O alferes-mor levou as mãos ao rosto. Era porventura uma lágrima, e o mancebo envergonhava-se dessa lágrima neste doloroso momento; porque não era só doloroso, mas também grave e solene.
— Oh Garcia, Garcia! - replicou Dulce. - Qual gratidão poderá exceder a nossa para contigo?! Tu me salvaste e o salvaste a ele.